BANDAS DE MÚSICA NA REGIÃO DO SALGADO

01-12-2013 12:13

BANDAS DE MÚSICA NA REGIÃO DO SALGADO

 

“A música é capaz de reproduzir, em sua forma real, a dor que dilacera a alma e o sorriso que inebria.”

 

Ludwig van Beethoven

 

A Região do Salgado compreende toda a extensão litorânea do nordeste paraense banhada pelo Oceano Atlântico, abrangendo as cidades de Vigia de Nazaré, Curuçá, Marapanim, Maracanã, Salinópolis, São Caetano de Odivelas, Colares, Vizeu, entre outras. Essas cidades possuem uma notoriedade com a tradição de Bandas de Música e pelos excelentes talentos que tem produzido para o Brasil e para o mundo.

As cidades de Vigia de Nazaré, Colares e São Caetano de Odivelas (municípios exaltados na nesse trabalho) tem a pesca artesanal como sua principal atividade econômica. Os três municípios possuem uma diversidade cultural enorme. Em Vigia de Nazaré com o Círio de Nazaré, que é o mais antigo do Estado do Pará, há também o carimbó e as tradicionais bandas de música, além dos pontos turísticos (arquitetura jesuíticas) e seus ilustres ícones de educadores, jornalistas, escritores, músicos e políticos.

Em São Caetano de Odivelas existem as centenárias bandas de música e o mais famoso “boi de mascara” do Brasil o “Boi Tinga” uma das maiores manifestações cultural do Pará, a singularidade do Boi de Mascara já lhes rendeu diversos filmes e documentários, inclusive uma participação em uma novela da Rede Globo.

 

Segundo o Site “Criatividade em Falta” a origem dessa manifestação do ‘boi’ de São Caetano se deu com o

 

Surgimento do Boi Tinga, na década de 1930 como uma brincadeira de pescadores da cidade que estavam na região do Marajó, e tiveram a ideia de “botar” um boi como brincadeira nos dias santos da quadra junina, que eram os dias em que não se trabalhava os dias dedicados ao descanso e ao lazer ou à veneração aos santos do dia. Um dos pescadores era Laudelino Zeferino, que trouxe do Marajó uma cabeça de boi que compôs o primeiro cortejo. Como relíquia, os chifres ainda são preservados pela família de Laudelino no Boi Tinga. (https://criatividadeemfalta.blogspot.com.br/2012/07/tradicao-cultural-de-sao-caetano-de.html)

 

Já o município de Colares a atividade musical também é muito significativa, mas há muitos outros atrativos turístico/cultural como as belas praias e passeios em trilhas naturais, e não se pode deixar de ressaltar os famosos “Mitos” sobre aparições de “OVNI” e “ET”, década de 70, na região de Colares conhecido no Brasil todo quando exibido pelo Programa da Rede Globo “Linha Direta” e com isso ainda hoje a cidade vive essas estórias para atrair turistas e Ufólogos para fomentar sua economia. 

 

A cidade de Vigia de Nazaré é o pólo dessa região, com 396 anos de existência e história, mantendo viva a mais antiga tradição musical do interior do Estado do Pará com as duas bandas de maior ênfase:

1.    Banda “31 de Agosto” com 136 anos, e o

2.    Banda do “Clube Musical União Vigiense” que nasceu em 13 de maio de 1916.

 

A cultura de bandas foi se expandindo e surgiu na Vila de Porto Salvo (interior de Vigia) a Banda “25 de Dezembro” com mais de meio século de história, e atualmente existem cinco Bandas de Música só no município de Vigia de Nazaré as três já citadas, e a Banda “Isidoro de Castro”, com 3 anos de existência que é procedente da “31 de Agosto”, que passou a existir a partir de uma divergência da diretoria com os músicos do grupo e a Banda “Maestro Vale” do “Instituto Art Show Vigia”, que tem como mentor e fundador o Maestro José Vale, que também se originou de conflitos e divergências dentro da Banda União Vigiense.

Esses conflitos que aconteceram nas bandas de música, não são de exclusividade da história contemporânea de Vigia de Nazaré. A história do surgimento do Clube Musical “União Vigiense” está intimamente ligado a conflitos semelhantes.

Em 1916, foi fundado o Clube Musical “União Vigiense” por Constancio da Silva Gaia e colaboradores comerciantes. Diz o estatuto de 4 de agosto de 1930, “a banda se compunha de 25 figuras no máximo, além de turma de reserva. Tinha sócios efetivos, honorários e beneméritos.” A maioria dos músicos eram ex-componente da “31 de Agosto”, que por motivos de conflitos interno criaram essa nova sociedade musical em 13 de Maio de 1916.

Nos meados do século XIX, com a chegada de uma banda de música militar vinda da capital do Estado – Belém, para a cidade de Vigia a tradição de bandas se enraizou nessa região, pois foi à primeira manifestação musical estabelecida do gênero “banda de musica”. Segundo Salles (1985),

 

A celebração da adesão do Pará à independência foi feita, na Vigia, com varias solenidades. Houve Te Deum, música nas ruas, festas populares. Não há noticia então da existência de bandas de música. Esta só aparece no mapa de 14 de março de 1836, assinado pelo major Francisco Sérgio de Oliveira, comandante militar da Vigia e Distritos na época da Cabanagem, mapa esse que enumera a força ali localizada: 766 homens. Havia, no batalhão da infantaria, banda de música constituída de um mestre e dez músicos. (SALLES, 1985, p. 124, 125)

 

 

E com o aparecimento dessa banda de música militar, duas bandas civis surgiram, a Banda “7 de Setembro” e a Banda “Sebo de Holanda”, essa ultima formada só por crianças. Ambas desapareceram com o tempo.

Em 1876, o vigário de Vigia Monsenhor Mâncio Caetano Ribeiro, formou uma Banda de Música denominada “31 de Agosto” em homenagem a adesão de Vigia à Independência do Brasil.

Segundo Vicente Salles (1985),

 

Conta à tradição que, em 1876, reverendo Monsenhor Mâncio Caetano Ribeiro tomou a iniciativa de reunir os remanescentes das duas bandas extintas. O novo conjunto passou a denominar-se “31 de Agosto”, nome que teria sido sugerido pelo Dr. Francisco de Moura Palheta em homenagem à data da adesão de Vigia a independência do Brasil (SALLES, 1985, p. 125).

 

 

Em 1889, com a Proclamação da República, Vigia aderiu o novo regime partindo para uma nova fase da sua história, a cidade que foi Palco de importantes acontecimentos da Cabanagem e de outros fatos históricos do Pará, teve filhos ilustres, entre intelectuais, poetas, escritores e artistas, sendo considerada como referência artística e cultural do Estado, também chamada de “Atenas Paraense” fazendo uma alusão a cidade grega “Atenas”. E é nesse cenário que as bandas de música nascem em Vigia e permanece até os dias de hoje com toda força artística aproveitando a cultura desse povo.

 

Nas cidades próximas a Vigia, São Caetano de Odivelas e Colares, a tradição de Bandas de Música também é muito forte, incluem as centenárias “Banda Rodrigues dos Santos” fundada em 24 de fevereiro de 1881 e a sua rival “Banda Milícia Odivelense”, cuja fundação data de 1º de janeiro de 1904, ambas do Município de São Caetano de Odivelas, a Banda “Profº Luis Gama”, fundada em 30 de junho de 1948 e a Banda “Lira Nova”, datada de 15 de novembro de 1922 do Município de Colares e essa ultima é de um distrito de Colares chamado Mocajuba.

Vale ressaltar que foram apenas citadas as Bandas de Música das cidades de Vigia de Nazaré, São Caetano de Odivelas e Colares (municípios pesquisados), pois há muito mais cidades na Região do Salgado que detém essa peculiaridade musical de muita tradição e vasta historia no Estado do Pará como os municípios de Vizeu, Salinópolis, Maracanã, Marapanim e Curuçá.



[1] Alguns autores acreditam que o município de Vigia de Nazaré é um dos mais antigos do Pará, ou seja, a mais antiga de todas as cidades da Amazônia, tendo sido fundada por Francisco Caldeira Castelo Branco durante sua expedição de conquista do Grão-Pará, em 06 de janeiro de 1616, seis dias antes da fundação de Belém. Os primeiros moradores foram os índios Tupinambás, que ergueram no local a aldeia Uruitá. Nessa antiga aldeia, o governo colonial construiu um posto fiscal para proteger, fiscalizar e vigiar as embarcações que abasteciam Belém, evitando o contrabando. Foi a prática de vigiar do posto que deu origem ao nome do município.

(https://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=815384

[2] Mâncio Caetano Ribeiro nasceu em Bragança, no dia 17 de maio de 1844, filho do coronel Miguel Caetano Ribeiro e Feliciana Ribeiro. Mudou-se para Belém, onde foi matriculado no Seminário, por Dom Antônio Macêdo Costa, que à época era o bispo do Pará e que reconheceu o talento e a vocação religiosa do jovem rapaz, De Belém, o seminarista Mâncio Ribeiro foi enviado a Roma, onde cursou o Colégio Pio Latino Americano. Anos mais tarde, foi transferido para o Colégio Pio São Suplício, na França, onde foi ordenado sacerdote, em seguida doutorando-se em Direito Canônico. Celebrou sua primeira missa em 29 de julho (algumas informações indicam o mês de maio e/ou junho) de 1871, na Capela de São Pedro em Roma, iniciando sua vida religiosa. Regressando ao Pará, exerceu a função de Vigário em diversas paróquias, entre elas a da Vigia (por 14 anos) e a de Bragança (de dezembro de 1871 a janeiro de 1872), sendo mais tarde, nomeado coadjutor de Sant’Ana. 

[3] A Cabanagem (1835-1840) foi à revolta nos quais negros e índios se insurgiram contra a elite política e tomaram o poder no Pará (Brasil). Entre as causas da revolta encontram-se a extrema pobreza das populações humildes e a irrelevância política à qual a província foi relegada após a independência do Brasil. A Cabanagem ocorreu durante o período regencial no Brasil. O Período regencial brasileiro (1831 — 1840) foi o intervalo político entre os mandatos imperiais da Família Imperial Brasileira, pois quando o Imperador Pedro I abdicou de seu trono, o herdeiro D. Pedro II não tinha idade suficiente para assumir o cargo. Devido à natureza do período e das revoltas e problemas internos, o período regencial foi um dos momentos mais conturbados do Império Brasileiro.

 

 

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - Prof. Cleyson Ataide